A Mandala Florestal - a Gênesis do Feminino Iluminado
Criada por Maria Lalla Cy Aché, é um ciclo de 31 danças rituais inspiradas nas energias femininas da Mãe Natureza que revelam em nós aspectos do sagrado feminino. São como 31 arquétipos da mitologia nativa brasileira que se manifestam dançando trazendo para o mundo sua oração corporal.
São representações das múltiplas faces da Grande Mãe: a água do rio, o sol, a lua e as estrelas, o som e o silêncio das matas brasileiras, bem como as sereias, as árvores, as pedras, cobras, pássaros e onças, cada uma com o seu ensinamento/iniciação.
No início, bem antes do “descobrimento”, existia aqui, em terras Pindorama, um matriarcado. Vivia-se em harmonia com a natureza, em liberdade, numa terra próspera e sem donos. Cy, que significa “mãe”, um ventre livre e prazeroso, dançava em espirais galácticas e paria o universo. Dava nome a tudo e todo o mundo tinha mãe. Assim, a Lua era Iacy e o sol Coaracy. Iacyara era a mãe da luz do luar. O feminino era honrado e consagrado.
A Mandala Florestal nos ajuda a recontar essa História do Brasil “esquecida”. E nos lembra também que houve o tempo das Amazonas, mulheres guerreiras, a última resistência desse matriarcado, as que fugiram de suas tribos por não quererem se submeter a nova lei estabelecida com a chegada de uma nova mitologia “o mito de Jurupari, o filho do sol”. Pela nova lei, as mulheres passavam a ser propriedade dos maridos e não podiam mais escolher com quem iriam se deitar. Os filhos não eram mais de todos. Elas não podiam mais cantar, dançar, rir e nem sequer falar, sem a permissão dos maridos. Não podiam mais participar das festas sagradas e os rituais eram para a incorporação do espírito do Jurupari (o nome Jurupari significa de boca fechada) à fim de estabelecer as novas leis. Diz-se que esse foi o tempo do “kiriri”, a tristeza das mulheres. As que se negaram a obedecer, foram punidas e até mesmo condenadas à morte. O mito de Jurupari e a nova lei coincide com a chegada dos colonizadores a essas terras e o mito persiste até hoje em muitas tribos amazônicas, inclusive na Colômbia e no Peru. O mito de Cy foi aos poucos sendo esquecido. Contam que ela foi punida por desobediência e transformada na estrela mais brilhante da constelação das Plêiades.
Relegada a condição de lenda, essa parte da história do Brasil precisa ser contada para honrar a resistência e a coragem de nossas ancestrais, para o benefício e autoestima de todas as mulheres. As Amazonas fugiram do convívio com os homens e estabeleceram seu próprio território: o reino das Pedras Verdes, no coração da Amazônia, próximo ao rio Nhamundá.
Através da música e da dança celebramos e nos conectamos com estes aspectos do Feminino Iluminado, da nossa alma selvagem, não domesticada, sempre disponíveis para nos ajudar a reconhecer dentro e fora de nós: a Força, a Beleza e a Sabedoria que nos habitam, nutrem e nos dão coragem para enfrentar os desafios da existência.