Carta / Força 29 - Jurema Sagrada, a árvore ancestral
Árvore Ancestral
Letra: Maria Lalla, João Dionyso Tupinambá
Música: Miguel Herzog, Maria Lalla
Árvore frondosa, quanta beleza!
Chuva de folhas dançam no vento
Sussurros e memórias no tempo
Marcas e mistérios dos ancestrais
À minha esquerda está minha mãe, e a mãe da mãe da mãe
E a direita meu pai meu avô e o pai do pai do pai.
Olho pra cima e vejo eco de sistemas:
Pássaros, plantas, flores, insetos, mundos, poemas.
Pessoa árvore sou, de raízes profundas
Da escuridão da terra cresço em direção à luz
Copa, coroa contra o céu azul
Ela é a testemunha do tempo
A Acácia está em todo o mundo, mas essa espécie da Mimosa - a Mimosa Tenuiflora, Mimosa Hostilis ou Mimosa Nigra - floresce na região onde o mapa diz hoje ser Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Tudo que nasce nos Agrestes e Sertões nordestinos precisa ser profundo pra buscar água, para sobreviver. Nesses lugares do Brasil, as raízes compridas sustentam árvores que vivem mais de 200 anos e guardam um segredo que faz resistir milênios de ciência.
Com suas raízes: cascas, mel, gengibre, hortelã, cravo, canela e mistérios do além, a vivência ritualística revela os motivos de essa planta ser um símbolo do Sagrado para a sabedoria milenar ameríndia. É Catimbó. Tecnologia indígena, é ponte ancestral construída por Tabajaras, Potiguares, Fulny-ôs e Cariris.
Câmara Cascudo afirma que o catimbó nordestino seria a união de 3 etnias que formam o povo brasileiro: os negros com os ritmos, invocações e ritos, os europeus com a concepção de magia, processos de encantamento e orações transmitidas oralmente, e, por fim, o uso de plantas, o maracá, os mestres invisíveis, o cachimbo, viriam como contribuição dos povos originários.
A forte presença de elementos do catolicismo se deve ao mito que conta que quando a virgem, fugindo de Herodes, no seu êxodo ao Egito, escondeu o menino Jesus num pé de jurema, que fez com que os soldados romanos não o vissem, imediatamente, ao contato com o corpo divino, a árvore, encheu-se de poderes sagrados.
De todo este hibridismo resulta que na Jurema os discípulos aprendem na convivência, trabalhando e ajudando nas casas e nos rituais. Pajés, juremeiros e catimbozeiros são afinal sacerdotes e sacerdotisas que há muito rompem fronteiras: aproximando mundos diversos. A ciência da Jurema começou com os povos originários e incluiu excluídos em busca de libertação. Os negros africanos escravizados encontraram as aldeias e, nelas, a Jurema que os levou mata adentro para os quilombos. Ciganos, homossexuais. Gente da feitiçaria europeia, da pajelança, do catolicismo popular, do esoterismo moderno, da psicoterapia psicodélica, do cristianismo esotérico. Gente que anda para se encontrar.
Os espíritos de Índios, Caciques, Pajés e Caboclos são o fundamento principal da Jurema. São os mestres encantados invocados sempre no início dos cultos e relacionados aos guerreiros indígenas falecidos e que por sua sabedoria são enterrados nos pés das Juremas Sagradas. Estes seres espirituais são enviados ao Mundo dos Encantados, às cidades do Juremar, das matas e rios com o conhecimento de ervas medicinais, banhos e rezas.
A Jurema Sagrada é tipicamente brasileira, tão familiar que não se apaga nem com séculos de preconceitos: é um cheiro de chá de vó no quintal dos fundos da casa, é quando a alma abraça o chão, é como voltar prá casa. A fumaça roda o mundo e traz um bom recado. Salve a Fumaça! Salve a Jurema Sagrada ! Salve os mestres e as mestras da Jurema! Ninguém pode mais que Deus.
Pergunta: Você reconhece em si as culturas que te trouxeram ensinamentos que te constituem? A quais linhagens e egrégoras espirituais você se conectou nesta vida? Isso te traz benefício? Você se sente protegido e beneficiado por estas conexões?
Mandinga: Prepare um altar para honrar os seus ancestrais consanguíneos , mas principalmente , os mestre encarnados ou não que se dedicaram a te ensinar. Coloque flores, luzes, incensos e sinta a conexão e como todos eles fazem parte de você.